sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

° Os Maias

A partir do ano 292, de acordo com as esteiras ou monumentos de pedra com os quais os maias costumavam historiar sua própria tradição, e até o século IX, os maias tiveram um período de esplendor, deixando sua marca sobre outras culturas mesoamericanas.
Os especialistas em demografia histórica especulam que em meados do século VIII, em pleno esplendor do Período Clássico, a população maia das Terras Baixas pode ter chegado aos treze milhões de habitantes.
O território dos maias abraçava quase toda a Guatemala, o ocidente de Honduras, Belice, e os atuais estados de Yucatán, Quintana Roo, Campeche, parte de Chiapas e Tabasco, no México.
Durante dois mil anos, os maias conseguiram desenvolver uma sofisticada cultura em um meio ambiente extremamente adverso, como a selva tropical das Terras Baixas.
A vida dos maias foi de base urbana, com um meio campestre e agrícola. Ao redor dos edificios políticos monumentais e cerimoniais os palácios e templos, com a frente de suas casas orientadas com os pontos cardeais, localizavam-se os bairros dos artesãos, os comerciantes e os agricultores. Em seguida estavam as terras lavradas.
Graças ao sentido histórico com o qual pensavam nos acontecimentos da vida, os maias tiveram uma preocupação intensa em medir a passagem do tempo. Eles contavam com registros minuciosos dos grandes acontecimentos políticos e sagrados, as vitórias militares decisivas, a fundação das cidades, a coroação dos príncipes, e o surgimento de novas dinastias...


A partir da observação dos astros, eles elaboraram um calendário complexo e preciso. Os maias também conservaram a memória dos fatos significativos erguendo esteiras, monólitos ou placas cravadas em pedra, que permitem o conhecimento de sua história através de datas absolutamente exatas que contam com inscrições, além da informação mostrada pelas imagens gravadas na superfície de tais esteiras. Apesar disso, a tarefa dos cientistas se complica devido à concepção circular de tempo dos maias.
A sociedade maia era organizada em clãs familiares fechados. Cada clã era integrado por linhagens de hierarquia distinta, de acordo com a distância que os separava de seu antecessor fundador, muitas vezes imposto através da violência de certos grupos sobre outros.
Assim como era concebido pelos maias, o papel das mulheres se limitava à reprodução. As jovens das linhagens de elite eram trocadas por mulheres de outras cidades, gerando redes de parentesco vinculadas a todas as regiões do mundo maia, sem a obrigação de se casar com mulheres ou homens da mesma linhagem.
As normas morais eram extremamente rígidas. O adultério era proibido e as mulheres que traíssem o marido eram mortas por apedrejamento. Como exceção, aceitava-se a poligamia. Aceitava-se o divórcio, e em caso de insatisfação era permitido devolver a noiva durante o primeiro ano de casamento.
O consumo de álcool, tabaco e estupefacientes era um privilégio dos homens das castas superiores, que recorriam aos mesmos para facilitar a comunicação com os antepassados e com outras entidades.
As visões históricas tradicionais idealizaram os aspectos espirituais e científicos da sociedade maia, supondo erroneamente que não se tratava de um povo de guerreiros, ao contrário de outras culturas mesoamericanas, mas de uma civilização extremamente pacífica.
Na cúspide da sociedade, os reis divinos e os membros da nobreza eram grandes guerreiros e estrategistas, os “chefes violentadores”, conforme a expressão de um drama maia do século XII.
Os chefes máximos militares assumiam as condições da guerra por três anos com absoluta responsabilidade, respeitando as normas que lhes proibiam ter relações sexuais, consumir álcool e comer carne durante tal período.
Como em qualquer aspecto da vida maia, a religião e os ritos eram onipresentes na realização da guerra. As disputas eram iniciadas com grandes desfiles, portando estandartes sagrados ao som de tambores e flautas. Durante o curso da batalha os guerreiros executavam atos de magia e feitiçaria para se transformar em águia e jaguar.
Entretanto, o uso da surpresa era decisivo para a tomada de prisioneiros. A pintura corporal, o cabelo, e os alaridos tentavam provocar o terror entre os inimigos. Os combatentes se armavam com couraças acolchoadas de algodão, lanças de pedra, machados e machadinhas. Eles utilizavam catapultas para lançar ninhos de vespa sobre as posições inimigas.
A selva imprimiu por completo a percepção da realidade. Os maias acreditavam que uma energia biocósmica atravessava as pessoas, os animais, as plantas e os seres inanimados, imprimindo neles a sua razão de ser.
Quanto maior fosse a carga de energia, maior era a categoria e a importância de cada ser vivo, coisa, ou entidade. Os maias acreditavam que o gasto descomunal dos deuses era reposto com o sangue humano dos sacrifícios.
A crença no poder de combustível do sangue mostra deuses vulneráveis. E ao contrário, destacava o papel dos homens para manter o universo.
Mas além da terra e do céu, os maias davam mais atenção ao subsolo ou inframundo. Esta era a moradia dos mortos e dos deuses, além de fonte da vida e do milho, componente fundamental de sua alimentação.
O Xibalbá, o País dos Mortos, era um reflexo do mundo terreno. Eles construíam as pirâmides como representação do interior da terra.
Centralizada no subsolo, a noção maia do Outro Mundo abraçava uma dimensão mais complexa, um universo paralelo ao dos seres vivos, que incluía o céu, a superfície terrestre, a profundidade do oceano e a espessura da floresta.
O Outro Mundo, segundo acreditavam, resguardava os segredos do cosmos e do transcurso do tempo, os mistérios da vida e o destino dos seres humanos.
Das três grandes civilizações ameríndias do momento da conquista, os maias foram os que desenvolveram o sistema de comunicação por sinais mais sofisticados.
Os códices se referem ao contexto cósmico dos deuses, permitem estabelecer calendários e rituais.

Graças à exatidão do calendário, o mais perfeito entre os povos mesoamericanos, os maias eram capazes de organizar suas atividades cotidianas e registrar simultaneamente a passagem do tempo, historiando os acontecimentos políticos e religiosos que consideravam cruciais.
Entre os maias, um dia qualquer pertence a uma quantidade maior de ciclos do que no calendário ocidental. O ano astronômico de 365 dias, denominado Haab, era acrescentado ao ano sagrado de 260 dias chamado Tzolkin. Este último regia a vida da “gente inferior”, as cerimônias religiosas e a organização das tarefas agrícolas.
O ano Haab, e o ano Tzolkin formavam ciclos, ao estilo de nossas décadas ou séculos, mas contados de vinte em vinte, ou integrados por cinqüenta e dois anos.
Eles estabeleceram um “dia zero”, que segundo os cientistas corresponde a 12 de agosto de 3113 a.C. Não se sabe o que aconteceu, mas provavelmente esta se trata de uma data mítica.
A partir deste dia os ciclos se repetiam. Entretanto, a repetição dominava a linearidade. Podiam acontecer coisas diferentes nas datas anteriores de cada período de vinte ou cinqüenta e dois anos, mas cada seqüência era exatamente igual à outra, passada ou futura.
Assim diz o Livro de Chilam Balam: “Treze vezes vinte anos, e depois sempre voltará a começar”...
Na língua maia, “profecia” e “lei” se escrevem com a mesma palavra, mostrando a concepção regular e circular que tinham do transcurso do tempo.
Assim como os astecas, os maias pensavam que as profecias se cumpriam. Por isso, toda tentativa de fugir da sorte estava destinada ao fracasso. O livro sagrado de Chilam Balam diz: “Estas coisas serão compridas. Ninguém poderá detê-las”.


Livro de Chilam Balam: Em código apocalíptico, assim como os outros relatos messiânicos da época da conquista, o Chilam Balam relata a destruição e o renascimento dos nove níveis do inframundo e os treze céus, o roubo da Grande Serpente, o desmoronamento do céu, e o desabamento da terra.
(Discovery Channel Website)

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