segunda-feira, 12 de abril de 2010

° Boudicca, A Rainha Vermelha


Boudicca, também conhecida como Boadiceia, foi uma personagem de grande importância na história. Chamada de a Rainha Assassina ou Rainha Vermelha (por causa de seus longos cabelos vermelhos na altura dos joelhos), liderou uma das mais importantes rebeliões dos povos célticos contra o domínio do Império romano. Era uma nobre que nasceu por volta do ano 30. Pouco se sabe de onde veio, mas alguns estudiosos acreditam que seu nome é uma homenagem à deusa da Vitória Boudiga, do panteão celta, dado por seus seguidores.
Quando Roma investiu contra ôs antigos povos que habitavam as ilhas e costa Britânica , haviam duas alternativas às tribos conquistadas: aliar-se à Roma tornando-se clientes do Imperador, pagando altíssimos impostos (tributos) em troca da suposta paz concedida pelo Império, ou negar-se à submissão e tentar defender suas terras com sangrentas batalhas contra os numerosos e disciplinados soldados romanos.
Após inúmeras batalhas de resistência, fatais às tribos com sucesso violento por parte de Roma, muitos decidiram aceitar a proposta romana, e conviver com a suposta paz concedida em troca de sua obediência...
Um dos chefes tribais, Prasutagos, proclamado Rei dos Icenos foi mantido no trono como rei-vassalo de Roma. Desta forma, havia um governante local dirigindo-se diretamente ao seu povo e suas terras, subordinado aos interesses de Roma. Dessa maneira, contavam com apoio militar, um estrutura de taxas e coletas de impostos e educação nos moldes da existente no Império. No fundo, tratava-se de uma escravidão branda. 
Casou-se com Boudicca por volta do ano 48, filha de Rei Iceno, mulher de temperamento forte e treinada segundo os costumes druídicos e sacerdotais dos povos da Ilha de Avalon. Reinava ao lado de Prasutagos com justiça e determinação. Juntos tiveram 2 filhas, de nomes Rigana e Argantilla.
Pouco antes da morte de Prasutagos, este evitando que suas terras e domínios fossem confiscados por Roma, elaborou segundo as leis romanas um testamento, onde deixava documentado a divisão de suas posses entre suas filhas e esposa, e uma parte ao Imperador Romano, como parte de seu tributo.
Pouco depois veio a falecer, de complicações causadas por ferimentos de guerra e doenças pulmonares (acredito que tuberculose, doença comum e incurável na época).
Porém, após a morte de Prasutagus, representantes da administração tributária de Roma foram enviados à Bretanha, acompanhados de guardas para contestar seu testamento. Segundo as leis romanas, não poderia deixar bens, propriedades e recursos à família sem o direto consentimento do imperador.
Boudicca foi tornada inteiramente responsável por todos os débitos junto a Roma. Por não ter como honrá-los, Roma não poupou esforços para utilizá-la como exemplo. Foi feita prisioneira e açoitada em público, enquanto que suas filhas foram levadas para longe e violentadas pelos soldados romanos. A isso chamavam de “a Lei Romana”. Nenhum crime havia sido cometido pelos Iceni aos romanos além do fato de Prasutagus ter distribuído alguns de seus recursos às suas filhas...
Ela recuperou suas filhas e trazendo-as novamente para o seu povo. Então, várias pequenas insurreições e rebeliões começaram a acontecer primeiramente ao sul, particularmente pelos Trinovantes, libertando seus parentes e familiares que passaram a engrossar as suas fileiras. Eles faziam parte de uma tribo que não havia se submetido aos romanos e que se colocou à disposição dos Iceni para responder ao ultraje recebido. E foi dessa maneira que as duas tribos que eram inimigas entre si por séculos estabeleceram uma aliança para se juntarem a Boudicca quando ela conclamou à guerra.
Acredita-se que Boudicca reuniu cerca de cem mil pessoas quando liderou o primeiro ataque a Camulodunum Colônia (Colchester), uma colônia distante da administração romana e de suas famílias. No interior da cidade, uma quinta coluna de rebeldes assegurou que o ataque ocorreria sem aviso ou problema. Os combates duraram alguns dias, tempo suficiente para que mensageiros corressem a Londinium (Londres) e informassem o Procurador, uma vez que o Governador estava fora de alcance. Este respondeu enviando apenas 200 homens, que foram rapidamente abatidos na batalha.
Tácito cita a religiosidade romana e britânica que previu a desgraça futura de Roma: “Apesar de tudo, sem nenhuma causa evidente, a estátua da Vitória em Camulodunum permanecia prostrada e de costas para o inimigo, como um presságio a ser refletido. Mulheres profetizavam a destruição em línguas estranhas e diz-se que foram ouvidas inclusive no Senado. Os combates foram tão fortes que a cidade parecia um cemitério e o Tamisa, um rio de sangue. E quando a maré baixava, corpos surgiam fantasmagóricos de suas águas. Para os bretões, esse sinal eram um alento; para os romanos, apavorante. Os soldados veteranos de Roma mantiveram-se fechados por mais dois dias, trancados no templo de seus deuses. Desempenhando a função de agricultores, estavam pouco equipados para lutas tão ferozes quanto aquela.”
Foi quando Boudicca se moveu. Camulodunum era uma cidade destruída e seus habitantes estavam totalmente fora de combate. Conta a história que a Rainha Boudicca era seguida por corvos aonde quer que fosse, pois era em nome de uma Deusa chamada Andraste (a Deusa da Guerra e Senhora dos Corvos) que lutava, os corvos sabiam que por onde ela passasse, haveria alimento. A IXª Legião Hispana, guiada por Petilius Cerialis, foi enviada para Camulodunum. Rapidamente se equipou e deslocou para a região do conflito trazendo cerca de cinco mil homens, mas foi emboscado por um destacamento que os esperava a norte de Camulodunum. A infantaria foi totalmente dizimada; Petilius e sua cavalaria se retiraram mais para norte e a rebelião rapidamente se espalhou.
Após as notícias da revolta, o Procurador Decianus partiu imediatamente de seu gabinete em Londinium (atual Londres), levando tudo o que podia, inclusive os seus próprios funcinários, deixando a cidade sem administração.
Suetonius, enquanto isso, marchou rapidamente para Londres, inspecionando a cidade com um destacamento. De alguma maneira, evitara a chegada de Boudicca de Camulodunum, conduzindo uma legião inteira por cerca de 400 km, esperando encontrar apenas ruínas pelo caminho. Nessa época, Londinium era uma cidade burguesa, com seus negócios e feiras espalhadas por toda a sua extensão. Não era uma cidade particularmente fortificada, uma vez que sua principal atividade era realmente os negócios e seus cerca de 30 mil habitantes, romanos ou não, sentiam-se em casa. Apesar de Suetonius ter chegado a tempo, abandonou prontamente a cidade, pois sabia que não poderia ser defendida.
Tácito descreve a cena em seus anais:
”Ele decidiu sacrificar a cidade para salvaguardar a situação geral. Sem se deixar levar pelos pedidos e lágrimas daqueles que imploravam por sua ajuda, ele deu o sinal para partir, levando a sua coluna e todos aqueles que quisessem acompanhá-lo. Aqueles que não estavam preparados para a guerra, seja por seu sexo, idade ou porque eram muito presos aos seus negócios para os abandonarem, acabaram sendo mortos pelo inimigo.
Boudicca e suas forças chegaram a Londinium pouco depois da partida de Suetonius e arrasaram inteiramente a cidade, não deixando pedra sobre pedra.”
Depois de deixar Londinium, Boudicca se voltou para noroeste para Verulamium (Santo Albano), uma cidade pouco menos populosa que Camulodunum, mas composta inteiramente de bretões simpatizantes ao regime romano. Suetonius convocava agora a IIª Legião Agusta do sudoeste para reunir-se às suas próprias legiões. Mas parece que não compareceram a tempo, contidas por seu comandante Poenius Postumus. Sem eles, Suetonius reuniu rapidamente cerca de dez mil homens compostos dos destacamentos da XXª Legião que o acompanharam à Ilha Mona, da XIVª Legião e dos auxiliares disponíveis na área que poderiam ser reunidos o mais rapidamente possível. Supõe-se que assim tenha reunido cerca de 200 mil homens.
Os habitantes de Verulamium receberam orientações de Boudicca assim que ela partiu de Londinium. Antes que ela chegasse, a população evacuou a cidade levando consigo todos os seus pertences. Ainda assim, assim que o exército atravessou a cidade, ateou fogo em tudo e em todos aqueles que se recusaram a seguir as suas ordens. Mas ainda não foi dessa vez que Boudicca conseguiu atacar os exércitos de Suetonius.
Suetonius buscava uma região com um terreno particularmente favorável para a batalha, que pudesse favorecer o trabalho de seus soldados, tendo que lutar com o seu inimigo vindo exclusivamente de uma frente. A localização precisa deste local nunca foi determinada, porém, acredita-se que tenha sido a oeste de Middlands.
As duas forças se encontraram e se prepararam para a batalha. Para essa batalha, Boudicca é descrita com uma mulher cansada e com alguns ferimentos, conduzindo um clã de tártaros armados até os dentes e com uma aparência terrível (Tácito). Os celtas costumavam ir para a batalha com seus tambores, vestidos com roupas próprias para a guerra, brandindo lanças, espadas e armas roubadas. A pele era pintada de azul para intimidar o inimigo. Pode-se imagina a reação provocada nos soldados romanos bem treinados, mas não acostumados a enfrentar inimigos com esse aspecto.
Os romanos, em contrapartida, permaneciam naquela clássica formação de falange, seus escudos acima das cabeças servindo-lhes de proteção contra as lanças dos bretões. Assim que o inimigo estava ao alcance, Suetonius deu a ordem de formarem uma cunha, quando arremessaram as suas lanças e dardos. Em seguida, avança a infantaria auxiliar, sempre em ondas. Com esse ataque, o coração da tropa dos bretões que havia avançado primeiramente jazia morto e o caos se instalava na retaguarda bretã. Porém, os romanos avançaram ainda a sua cavalaria pelos flancos, buscando alcançar justamente a retaguarda bretã, onde estavam suas famílias e era considerado o ponto mais vulnerável de suas defesas.
Por fim a infantaria cercou as forças de Boudicca, deixando-a sem alternativa a não ser o combate. E muitos realmente acabaram morrendo. A partir dessa batalha, muitas outras rebeliões se sucederam.
Tácito diz que “para este combate havia cerca de 80 mil bretões e que apenas cerca de 400 soldados romanos foram mortos. A tradição diz que Boudicca sobreviveu à Batalha Final apenas para retornar ao lar e envenenar-se juntamente com sua filha mais nova, Argantilla, pois Rigana havia sido morta em batalha. É pouco provável que Nero tivesse clemência em seu caso ou de suas filhas. Se Boudicca tivesse sobrevivido e sido capturada, seria exibida como um troféu por Suetonius, em Roma, submetida então a horrores indescritíveis e por fim, levada a ser executada pelos gladiadores na arena.
Segundo uma lenda popular, ela estaria enterrada debaixo de uma das plataformas da estação de Kings Cross. Diversas outras fontes, enumeram as plataformas oito, nove ou dez, como suposto lugar onde a rainha repousa.
Cássio Dio sugere que tenha sido queimada como heroína, como é do costume dos celtas. Aqueles que foram capturados pelos romanos foram “vingados pelo fogo e pela espada”, de acordo com Tácito. O historiador diz ainda que muitos bretões deixaram de semear as suas plantações antes de deixarem as suas terras e assim, quando retornaram, muitos morreram de fome. Isso nos sugere que a rebelião tenha durado cerca de um ano.
Em várias localidades, muitos ainda permaneceram lutando, porque nada mais tinham a perder.


A fama da rainha Boudicca, como de muitas outras mulheres celtas, assumiu a dimensão de mito em toda a Grã-Bretanha. Uma estátua dela, representada segundo a concepção da memória popular, é encontrada em Londres, ao lado do rio Thames, próxima das casas do parlamento.

Fala atribuída a Boadicea (Tácito):

"Agora, não sou apenas uma mulher de ascendência nobre, mas principalmente uma pessoa que se vinga pela perda da liberdade, pelo meu corpo açoitado, pela castidade ultrajada de minhas filhas. O desejo romano foi tão longe que nenhuma pessoa, independente de sua idade ou virgindade, permanece despoluída. Mas os céus estão do lado da vingança justa. Uma legião que se atreveu a lutar já pereceu; o restante está se escondendo nos campos ou tentando escapar ansiosamente. Sua força de vontade não sustenta o clamor de tantos milhares, muito menos de nossos ataques. Se você ponderar as forças de nossos exércitos, você verá que num combate você deve conquistar ou morrer. Esta é a responsabilidade das mulheres, pois para os homens, resta permanecerem vivos e se tornarem escravos."


Os Corvos de Avalon (Marion Zimmer Bradley)

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